segunda-feira, 23 de junho de 2008

Método contra 'bullying' com sucesso em Espanha


Conferência. Encontro Mundial sobre violência na escola junta hoje em Lisboa os principais especialistas na matéria. País vizinho diz ter encontrado programa que resulta, mas por cá nem pais, nem professores, nem investigadores conhecem ainda o projecto, que já atrai a atenção de outros países


Alunos identificam colegas na Net de forma anónima


Uma equipa de investigadores da Universidade Complutense de Madrid (UCM) desenvolveu um método para combater o bullying , que diz ter tido sucesso nas escolas espanholas. Os resultados do método - que passa pela aplicação de um programa informático em que os alunos identificam de forma anónima os colegas que gostam ou não - foram apresentados ontem no El Mundo, na véspera do arranque, em Lisboa, da 4ª Conferência Mundial sobre "Violência na Escola e Políticas Públicas", onde o fenómeno vai estar em destaque. Um projecto que já recebeu o acolhimento de países como a Suécia e a Finlândia mas que é ainda desconhecido pelas associações de pais e professores portuguesas e pelo Observatório da Segurança Escolar.A pensar no medo da vítima em denunciar um colega (uma das principais dificuldades em detectar o bullying), a equipa da UCM lançou, em 2004, um programa informático que identifica as vítimas e os agressores de forma anónima. É ainda um modo de detectar o fenómeno precocemente e evitar que as agressões (físicas e psicológicas) se prolonguem e deixem feridas incuráveis.O programa espanhol baseia-se numa ferramenta informática que disponibiliza as fotografias de todos os alunos de uma turma, questionando-os individualmente: "Com quem gostas de brincar?" e "Quem é que te incomoda mais?", são exemplos de perguntas a que os estudantes respondem, clicando em cima da fotografia do colega correspondente. "É muito mais simples e eficaz do que escrever ou falar sobre o assunto. Os jovens respondem com mais liberdade e sem se sentirem coagidos", afirmou o "pai" do método, Martín Babarro.A ideia é levar os colegas a apoiar as potenciais vítimas e trabalhar com os agressores. A experiência começou no colégio madrileno Salvador Allende, que frisa o sucesso da iniciativa. Além do alargamento a toda a Espanha, também a Finlândia e a Suécia foram a este país ver de perto o programa.Pode ser aplicado em PortugalPor cá, ainda ninguém ouviu falar deste projecto, apesar de já ter cinco anos e da interligação entre as associações portuguesas e espanholas. O presidente da Associação Nacional de Professores (ANP), João Grancho, admite que "tudo o que se faz pode servir de inspiração e pode vir a ser aplicado em Portugal". Também Albino Almeida, presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), fala ao DN da possibilidade do programa "servir como modelo de inspiração para aplicar nas escolas portuguesas". Até porque, "as boas ideias como esta não deixarão de ser adaptadas à realidade nacional". No entanto, disse, "todas as medidas aplicadas actualmente em Portugal são adequadas, como a tutoria entre os pares, em que os alunos menos problemáticos acompanham os mais problemáticos e os mais velhos apoiam os mais novos". Estas "brigadas de intervenção têm-se revelado muito eficazes", concorda Albino Almeida.O psiquiatra e membro do Observatório da Segurança Escolar Daniel Sampaio contesta a solução espanhola. O "problema do bullying não se resolve com um programa informático, que só pode funcionar se for integrado num método geral de combate ao fenómeno". "É necessário trabalhar com as famílias, os alunos, os auxiliares da educação e os professores", defende.Outro ponto fundamental para o especialista é o conhecimento da vítima. "Não se pode pensar no 'bullying' sem tratar a vítima". Já que "o próprio comportamento das vítimas (vergonha, inibição, minoria étnica ou sexual) pode incentivar esta prática", denuncia. Até porque, "não se pode pensar só no menino mau que é o agressor e no menino bom que é a vítima. O agressor pode mesmo ser promovido no grupo de amigos e os seus actos entendidos como positivos". Por isso, o médico considera que "o bullying é muito mais complexo" do que a abordagem do programa espanhol.O DN tentou, sem sucesso, contactar o Ministério da Educação para obter um comentário sobre a possível aplicação no País.

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