domingo, 11 de novembro de 2007

Violência na escola


Na escola onde lecciono tenho reparado num problema que progressivamente se vem agravando entre os alunos. São notórias as situações de violência entre a crianças. Manifestações de revolta, desinteresse, baixa auto-estima e insegurança que se reflectem, com muita frequência, na agressão física.
Questiono-me como gerir situações sobre as quais tenho plena consciência que são reflexo, maioritariamente, das disfunções que aquelas crianças são vítimas fora da escola. Como fazer? Aplicar um castigo severo? Mais uma violência a somar a todas as outras...?

Noto que mesmo utilizando a calma alguns dos meus alunos não sabem ser diferentes porque nasceram no seio da violência. São crianças com auto-estima muito baixa. Facilmente acreditam que são culpadas das situações, embora não o assumam, numa tentativa que as atenções de repreensão não recaiam sobre eles. Não se sentem amadas e utilizam a agressão física como substituta das palavras, que muitas vezes não conhecem, para se defender.

É preciso que a família ensine as crianças a resolver os conflitos, e as frustrações inerentes, de forma não violenta. Claro que na escola o professor dará continuidade a esse trabalho. É necessário que as crianças sejam preparadas para os obstáculos que podem surgir numa relação, para os sentimentos e emoções. Sinto é a dificuldade de chegar àqueles que parecem já estar à margem. Que não têm um início trabalhado, supostamente pela família, para poder dar continuidade.

Nos dois últimos grandes conflitos que ocorreram senti necessidade de parar a aula, a matéria, fechar os livros e os cadernos.
Existiram cadeiras no ar, mesas viradas, arranhões, pontapés, muito choro e muitos gritos. Tudo causado por uma resposta menos própria, dada por uma aluna, numa conversa “parasita”.

Do recreio chegam-me também com muitas queixas uns dos outros. Ocorrem cenários de grande conflito nos quais tem que existir a intervenção do adulto.

A última grande conversa que tivemos durou 2h. Não posso pensar que estou a perder tempo, pois tenho matéria para dar. Sinto que esta é a única forma de ganhar tempo com eles.

Existe um “contrato” nas nossas conversas: cada um só pode falar de si próprio, nunca fazer queixas dos outros.

Nestas alturas acabam sempre por referir os conflitos que vivem em casa. Apercebo-me assim dos castigos e da pancada que frequentemente são alvo, da ausência de palavras a que estão habituados.

Curiosamente acabei por ouvir os meus alunos falarem do que é a solidão e como se sentem com ela. Alguns disseram que acordam tristes todos os dias porque parece que não têm amigos; ninguém para conversar.

Apercebo-me também do modo como muitas vezes os assuntos são resolvidos em casa:

- Se a professora não disser aquilo que quero ouvir, em casa, vou-te encher de tareia!... – gritou o encarregado de educação de um aluno, antes de entrar na sala de aula para receber a avaliação do 2.º período.

Por onde passa a solução para situações quotidianas destas? Só se pode apelar à paciência da professora? Onde está o tempo para uma atenção mais individualizada?

Depois de conversarmos sinto-os mais calmos, só que algumas vezes só até ao dia seguinte...
Teresa Filipa Sequeira

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