domingo, 11 de novembro de 2007

Violência nas escolas é pior no primeiro ciclo


Helga Costa
Há mais casos de indisciplina e agressões nas escolas portuguesas para além dos que envolvem alunos e professores. Segundo os dados do balanço do primeiro ano lectivo de funcionamento da linha "SOS Professor" (808962006), criada há um ano pela Associação Nacional de Professores (ANP), há vários casos denunciados de encarregados de educação que agridem professores, realidade com incidência preocupante no primeiro ciclo de ensino.Sabia-se já que, nos primeiros seis meses em que funcionou, a linha "SOS Professor" recebeu 129 queixas. Daí até ao final do ano, houve apenas mais 55, perfazendo um total de 184 queixas. João Grancho, presidente da ANP e coordenador da linha "SOS Professor" afirma que não houve grandes oscilações nas queixas que "foram mantendo sempre o mesmo ritmo", mesmo em fases mais tensas como nas épocas de exames.O 1º Ciclo é, assim, o nível de ensino mais problemático, sobretudo no que respeita a maus relacionamentos entre professores e encarregados de educação. Uma situação que decorre do "contacto mais próximo" entre estes intervenientes nesta modalidade de ensino, explica o presidente da ANP. Com efeito, o ensino básico representa cerca de 30 por cento dos registos das queixas.Mas os tipos de acontecimentos não se resumem a maus relacionamentos. Passam também por questões didácticas, conflitos organizacionais, queixas ou processos disciplinares e, com maior incidência, indisciplina e agressões verbais e físicas.Na escola, sobretudo dentro da própria sala de aula, os distritos do Porto e Lisboa representam quase 50 por cento dos professores queixosos. Preocupante é também a situação de Setúbal, que originou 10 por cento das queixas do ano.Em maior risco estão os docentes do sexo feminino, que constituem 76,1 por cento dos queixosos, principalmente entre os 40 e os 59 anos, de acordo com os dados recolhidos pela "SOS Professor".No entanto, esta linha de apoio tem surtido o efeito desejado no controlo destas situações. "Em função do caso, é perguntado que tipo de atitude é que o docente pretende tomar, se precisa de apoio psicológico, e o quadro de intervenção relaciona-se com aquilo que o professor pretende", explica o coordenador, que refere ainda que "às vezes, é preciso encaminhar para o gabinete jurídico".Até hoje, não houve nenhuma reincidência, após a actuação da equipa de psicólogos, psicopedagogos, especialistas em mediação de conflitos, professores e membros do gabinete jurídico, garante João Grancho ao JN. Agora, sim, "estão criadas as condições legais e os objectivos para uma actuação cada vez mais eficaz", acrescenta.Para o novo ano lectivo, diz João Grancho, é preciso "manter a equipa e começar a introduzir uma intervenção mais próxima das escolas", nomeadamente através do programa "Aprendo para Vencer", cujo principal objectivo é começar "a introduzir mais formação para prevenir estes casos". O projecto pretende construir relações de convivência pacífica nas escolas, prevenir a violência e criar um ambiente de qualidade de vida e de bem-estar, principalmente nas escolas do 1º ciclo.

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